Era uma vez um menino mágico que andava sempre pelo mesmo lugar. Ele se chamava Arastello, que significava, em sua língua, homem de prata, metal e aço. Morava numa fazenda de búfalos e margaridas. Quando nasceu, circulou em mente um pedaço de território e prometeu viver dentro desse círculo por toda a vida.
Um dia, ao acordar, viu um jarro de metal em cima da lareira de sua casa e ao tocá-lo, o jarro caiu e se quebrou, como se fosse um jarro de vidro; Arastello ficou assustado. Ele morava com os avós e ninguém estava em casa naquele momento.
Arastello foi para o campo cuidar dos búfalos. Antes de chegar ao território maior, avistou um búfalo muito estranho no meio da estrada de terra. Estava sozinho, fora da manada e parecia querer dizer alguma coisa, apesar de os búfalos não falarem.
O búfalo se apresentou ao pensamento de Arastello. “Sou fêmea, sou a avó dos búfalos, ouça-me bem, você precisará quebrar a sua promessa de viver no círculo sagrado porque viajará muitas milhas, distante daqui. Atravesse a cordilheira e chegue perto da montanha de neve. Lá, procure o monge Mudradham.”
Arastello perguntou exatamente quem o estava mandando nessa missão, porque quebrar uma promessa de nascimento podia ser algo extremamente negativo e provavelmente fatal.
A búfala respondeu somente: “Ou vá e acredite no seu pensamento ou negue o que um animal xamânico lhe fala”.
Arastello era fiel ao xamanismo e sabia que os búfalos eram sagrados e a avó búfala era de fato uma divindade adorada entre a sua família.
O menino era medroso porque sempre respeitou a lei de nascimento, mas quis se enfiar na aventura e procurar por Mudradham.
Foi até a sua casa, pegou uma mochila, colocou algumas frutas, pegou uma corda, uma faca, um fósforo e água. Então, foi atravessar a cordilheira.
Dois anos se passaram, sem que nada encontrasse; nem a cordilheira, nem a montanha de neve, nenhuma cidade, nem Mudradham, nem búfalo havia na planície. Era silêncio puro e louco. Arastello ouvia lobos uivarem e sentia o frio da neve se aproximar, mas não enxergava um palmo à sua frente, por causa da neblina e não sabia nem onde estava.
Estava fraco, beirando à morte, quando um dia o sol se pôs e Arastello se viu diante da cordilheira, dentro da cidade da montanha de neve e à sua frente um monge pequenino como um anão, dizendo:
- Sou eu, Eu sou. Mudradham. Só tenho três coisas para te dar e não posso te ajudar em mais nada.
O monge entregou ao menino três flechas, sem arco, sem nada. Mas o menino viu que havia um líquido oleoso na ponta de cada flecha. Arastello pensou: uma flecha para o amor, uma flecha para o perdão e uma flecha para o futuro, seja ele qual for.
Viu um perdiz voar e deu uma flechada. O perdiz caiu e ele assou o animal. Comeu um pedaço de seu coração e ofereceu todo o resto da carne a Mudradham. Logo depois, viu uma gazela saltitar, atirou a flecha e a gazela morreu imediatamente. Arastello pegou o fígado e deu todo o resto da carne para o monge. No mesmo instante passou um búfalo e Arastello não atirou. Atirou a flecha em si mesmo, mas não morreu. Sentiu dor e sacrifício, ofereceu a si mesmo inteiro para Mudradham.
O monge arrancou-lhe a flecha do peito, curou-o com a luz de suas mãos e disse a Arastello:
- Por que fez isso? Você sabia que as flechas estavam envenenadas, você pôde comprovar com a morte dos animais. Por que tirar a própria vida, Arastello?
- Eu não quis tirar minha vida, Mudradham, quis apenas oferecer o meu ser para o renascimento, o futuro é minha única chance; eu traí a minha promessa natal, como posso continuar a vida se não renascer como homem livre e perdoado?
Mudradham colocou as mãos sobre a cabeça do menino e deu-lhe o presente da vida eterna. Arastello, desde então, ajuda a tirar as flechas dos animais que são mortos pelos caçadores e as entrega àqueles que não têm o que comer.
Arastello tornou-se um xamã-fantasma, uma alma liberta que, por livre-arbítrio, protege os caçados e os caçadores. Mudradham continua vivo, passando seus ensinamentos aos culposos de coração.
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