16/08/2010

O Senhor do Fogo

O Senhor do Fogo abriu os olhos e se encontrou com a chama da fogueira. Ali, reclamou toda a mágoa que ainda não havia sido cumprida e em seu estranhamento se fechou em abundância e se perdeu num sonho de infância: o primeiro amor. Parecia ser o primeiro, mas não era. Era somente o único amor da vida, tão forte e tão intensamente agradável.


Com os olhos abertos procurou por sua Senhora. Ela não morava mais ali por perto, morava num outro monte de fogo. As fagulhas faziam arder o rosto do homem e, face ao mistério, ele viu em sua própria sombra, a imagem divina de sua mulher, gêmea sagrada de si.


Ao tocar a sombra, ele se apoderou da imagem dela e ela se tornou real, inimaginavelmente real. Porém o corpo do Senhor desapareceu no mesmo instante e vibrou dentro da Senhora uma voz imediata que dizia:


- O seu sumiço me criou alada. Não possuo mais um corpo para que me toques. Desejas desfazer o encanto?


O Senhor do Fogo tomou corpo novamente, sua Senhora desapareceu. Ele queria responder sim a ela, mas não pôde.


A fogueira ainda estralava a lenha quando ele a invocou novamente. Nada ocorreu, até que uma coruja pousou em seu ombro e aquela voz trêmula novamente surgiu. Sem hesitar, o homem exclamou:


- Sim! Eu quero o teu corpo, quero a presença unida de nós!


Ela ouviu as palavras, mas em seu corpo de coruja voou para longe dali. O Senhor do Fogo não conseguiu acreditar. Chorou desesperadamente frente à fogueira e adormeceu noite após noite, à espera dela que não vinha.


Após alguns meses, numa pequena vila de um país que visitava, ele a viu naquela forma linda de mulher que conhecera um dia. O tempo o havia mudado. Ele estava crescido e amadurecido.


Ansioso, foi correndo até ela para conversar. Ela não mais se recordava dele, mas como se fosse pela primeira vez, se apaixonou. Casaram-se naquela pequena vila e foram felizes, juntos, para nunca mais se separarem.


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