25/11/2010

reverenciando meu coração

Eu sei que parece um pouco ridículo escrever para crianças, e ler para crianças, ou ainda mais, ler o que as crianças lêem. Mas na vida, certas coisas são completamente fora de questionamento, e quando a gente nasce para uma coisa, a gente nasceu para aquilo. E eu dou-me voltas inteiras e percebo, as vezes percebem os outros antes de mim mesma, que o meu destino são as crianças. Eu amo dar aula, não, não que eu ame, mas eu gosto, mas não é de dar aula que eu estou falando, e nem de ter filhos, apesar de que acho que gostaria de ter vários. Estou falando de escrever para eles. Escrever com profundo respeito e lealdade. Escrever para essa nova geração que chega ao mundo. Escrever para aqueles nascidos no ano 2000. Considero um privilégio. Não são crianças de um novo século, são crianças de um novo milênio!

20/11/2010

E a gente acorda e dorme com borboletas e milhares de luzes que acendem, se apagam, e se misturam no coração, pra depois doer tudo e dar vontade de voar e de entrar em céu escuro e magnânimo. Arrepio no couro cabeludo, movimento ondulante nos olhos, os cílios a piscarem,
i like thee.

16/11/2010

A vida carrega águas de maneira que muitas vezes não podemos entender. As vezes o rio na nossa frente faz curvas, para, rodeia, a água imerge por dentro da terra para longe na frente fazer-se fonte novamente, e rio. Penso que guardar mágoas é como enterrar água corrente de rio. Fica lamacenta, não pode beber. Guardar mágoa é ruim. Hoje eu desfiz mágoa e me senti como rio que corre de novo, grandioso, limpo, veloz.
E toda vez que a tristeza vier, sei que uma hora ou outra, ela vai embora. E a alegria vem. E assim corre esse rio da vida. Assim correm as águas que não compreendemos. Elas são as veias da nossa vida. Nós temos um corpo emprestado, mas somos de outro. Viemos de um mesmo corpo, todos. As vezes acontece.

11/11/2010

As águas correm mais lentas o vale por onde caminho. Ainda é breu, talvez o alvorecer, ou a aurora, não distinguo, não tenho relógio, mas olhando melhor, vejo que as estrelas caem, deve ser a aurora. Vejo a bruma cobrindo as montanhas e o frio, gélido, perspassa meu corpo. Bebo um pouco da água, fria, boa, leve. É o rio de São Miguel. Vejo adiante uma espada encostada, beirando a água e fazendo-a turva na margem. É a espada do arcanjo. É para mim. Para realizar uma tarefa. Agaixo e reverencio. Entro em outro mundo de olhos fechados, por um momento. Tudo é luz incendiante, irradia do eixo para fora, a espada tem poder. Tento devolvê-la ao rio, ela não deita ao chão, ela volta como um imã. Tento novamente, mas há um campo magnético que a empurra para minhas mãos. Eu a deixo, ela fica parada no ar. Retomo-a. Coloco-a na minha cintura, apertada por meu cinto. Caminho. O sol começou a nascer. Subo a encosta. O rio se estreita. A água escassa. Agora não guio mais meus pés. Sinto medo. A bruma me encosta, ando em nuvens.

07/11/2010

As vezes a vida se confronta com a nossa vida. Não haveriam de ser a mesma vida? A nossa e essa de fora? Mas vem de repente um nó na garganta, um nó de gravata apertado demais, e dá vontade de tossir. De ficar vermelho sufocado, porque isso exprime o que se tem. Mas e se eu me soltar? Como, como faço pra me tirar desse sentimento de asfixiação, desse peso que a vida impõe na minha vida? E se elas fossem a mesma vida, não haveria de ser mais leve a minha vida e mais pesada a outra vida? Quem me impõe o que não quero? Provavelmente um outro eu. Algum que queira um sonho divergente do meu próprio sonho. Como podem alteridades numa identidade? Quantas vozes são essas, quantos comandos são esses? Sinto um peso que me paraliza porque me acelera. É a dúvida. São de novo as escolhas. E o meu ser não aquieta.