28/09/2010
arguto vaga-lume
25/09/2010
O casamento de Diana
Era uma vez, num reino distante, uma princesa chamada Diana. Ela era negra, linda e o seu corpo era todo enfeitado com flores que ela própria desenhava.
Diana era a única filha de seus pais e foi prometida para o príncipe Inácio, também único filho do rei e da rainha de um principado vizinho dali.
Diana e Inácio se conheciam desde bebês e brincavam juntos, quando os seus pais se visitavam. Sempre havia festa em um ou noutro reino e eles gostavam de conversar, correr e namorar.
Quando Diana completou dezesseis anos, Inácio completou vinte e três e foi a hora deles se casarem. As duas famílias prepararam um casamento no jardim de Diana e lá eles prometeram amor eterno e cuidado um para o outro.
Uma estrela cadente caiu na hora deles se beijarem, fez barulho de foguete e todos aplaudiram, todos os convidados se comoveram.
Inácio acendeu um cachimbo de fumaça colorida e o entregou aos seus amigos, para que todos participassem do mesmo amor.
Diana estava muito bela, ela tinha uma serpente de estimação que estava enrolada no pescoço, servindo de colar para a noiva.
Inácio estava vestido com roupa de caça. Levou consigo o seu arco e suas flechas e demonstrou coragem e proteção para Diana.
Na manhã seguinte ao casamento, algo muito triste aconteceu. Inácio morreu sem motivo aparente. Diana chorou e enterrou o corpo dele na casa nova.
Inácio passou a aparecer para Diana todas as noites para conversarem e dormirem juntos. Eles passaram a vida assim, Diana-viva, Inácio-fantasma, amando-se tragicamente.
21/09/2010
16/09/2010
águas
O único amigo
Era uma vez uma menina que tinha um amigo. Ela era tão feliz com esse amigo, que não queria mais nenhum outro amigo e também não queria que seu amigo tivesse nenhuma outra amiga.
Um dia ela foi ao parque colher flores, cantar e dançar. Ela estava com o seu único amigo, mas ele estava longe, também a colher flores, dançar e cantar.
De repente, apareceu um garoto muito bonito, alto, de olhos azuis brilhantes, cabelos loiros cacheados, que trouxe para a menina seis flores exóticas, de espécies que não havia ali no parque.
O garoto disse a ela que aquelas flores foram colhidas nas terras dele e, porque ele tinha gostado muito dela, quis presenteá-la. Ela agradeceu as flores e saiu correndo, porque pensou no seu único amigo e pensou que talvez ele não fosse ficar feliz por ela fazer um novo amigo. Ela escondeu as seis flores no bolso do seu vestido e não conseguiu mais cantar, nem dançar, nem colher novas flores, tamanha a sua preocupação.
Antes mesmo de encontrar o seu único amigo, pegou de novo as flores que tinha ganho, cheirou-as, apreciou-as e as jogou fora.
Quando o seu único amigo se aproximou, ela estava chorando e contou a história do presente para ele. Ele disse que ela não precisava ter um único amigo, e que nem ele precisava ter só ela como amiga, que eles podiam ter outros amigos, e que talvez aquele garoto de cabelos loiros pudesse ser amigo dos dois.
Já era tarde demais, porém. O garoto havia desaparecido. A menina continuava chorando, foi procurar as flores no jardim do parque, mas não as encontrou.
Algum tempo mais tarde, o seu único amigo precisou viajar com a família e nunca mais regressou.
10/09/2010
a ti
03/09/2010
01/09/2010
O Pequeno Mago
Já perdido na terra dos orientais, o pequeno príncipe se cansou de talhar sua malha de angústia com linhas de lã.
Ele queria um prazer ainda mais intenso do que o vento que subjuga as montanhas geladas daquele pólo em que estava morando desde o ano passado.
O pequenino ansiava por passar a vista na visita do seu coração. As veias de seu peito estavam doces e sem coloração.
Na realidade ele estava triste, sozinho e uma leve inquietação abalava o seu peito na tempestade. Sua família há muito não via e a saudade aumentava conforme a neve caía.
O pequeno príncipe principiava seu estudo de mago. Ele estava sem um mestre e isso dificultava, mas havia em sua mochila uma apostila de magia branca e com esta ele estudava.
Carregava uma lanterna cor-de-rosa e na caverna em que morava, protegido do frio, estudava. Começara já a praticar alguns ensinamentos.
O primeiro havia sido a capacidade de mudar objetos de lugar. Podia trazer lenha da floresta para se esquentar, podia trazer uma flor congelada, ou puxar seu cobertor. Tudo com o pensamento.
A segunda lição havia sido a capacidade de transformar uma coisa em outra coisa. Por exemplo, sua apostila em um cãozinho, sua caneta em varinha mágica, sua roupa velha em roupa nova.
A terceira lição, estava aprendendo. Era a capacidade de voar para onde quisesse em poucos segundos.
Para realizar a quarta capacidade, o pequeno príncipe teria de encontrar um mestre. Era esse o desafio.
O pequeno passou dois meses com o treinamento do vôo. Todos os dias, às cinco horas da tarde, quando já era noite por causa do inverno, ele fechava os olhos, imaginava o lugar para onde desejava ir e se soltava.
Sentia os pés se desprenderem do chão, suas mãos formigavam, sua barriga ficava fria e ele subia. A primeira vez que tentou a tarefa, caiu do teto da caverna, era falta de fé. Precisava acreditar no resultado e não temer.
Sua primeira viagem completa foi para o Brasil. O pequenino conseguiu descer numa praia paradisíaca e meditar por ali. Conseguiu lá mesmo, até realizar as outras capacidades que já havia adquirido, como trazer objetos distantes e transformar o que quisesse.
O principezinho voltou para a caverna satisfeito e percebeu que dentro de si as coisas estavam mudando. Era um tipo de crescimento amadurecido. Sentia-se fortalecido, pleno de luz branca.
Cozinhou o seu jantar, comeu e adormeceu. Sem explicação alguma, o pequeno acordou em Bagdá. Ouviu o som de flautas e clarinetes, sanfonas e viola.
Ficou encantado, mas percebeu o seu estado de mendicância. Fechou os olhos em meditação para tentar compreender como havia chegado até ali. Sentia fome, como iria falar aquela língua?
Viu uma mocinha passar e fazendo gestos com as mãos, explicou a ela que sentia fome e queria ser seu amigo.
A menina sentou-se ao seu lado, retirou de sua bolsa algumas frutas e deu a ele de comer.
Ele percebeu que ela era muda e ficou feliz por tal amizade. Ela o levou pelas mãos até sua casa, um abrigo humilde, infinitamente belo por suas flores.
Havia flores por toda a entrada da casa e dentro do jardim havia um pavão belíssimo. O príncipe ficou lisonjeado.
Não parecia haver ninguém na casa senão essa amiga. Eles entraram.
Ao chegarem ao quarto da mocinha, para o espanto do principezinho, ela retirou seus cabelos, que eram de mentira, e se transformou numa mulher de 40 anos, careca, muito, mas muito mais bonita do que a menina que ele havia conhecido.
O príncipe fez cara de quem não entendeu a situação e ela, não parecendo nada muda, começou a falar.
Explicou-lhe que havia chegado a grande hora do principezinho, que ela era a mestra que ele procurava. Ela o elogiou, o parabenizou e ele contou-lhe a sua história.
Contou da apostila, da saudade que sentia de sua família e do que já sabia fazer em mágica.
A mestra lhe disse que se chamava princesa Filomena e se ofereceu para voarem juntos até a caverna onde o príncipe morava. Eles então foram para lá.
Enfim, a quarta capacidade estava agora realizada. O pequeno príncipe encontrara o seu mestre, ou melhor, sua mestra.
Princesa Filomena adorou a casa do pequeno príncipe e cozinhou naquela noite o jantar para os dois. Fez filhotes de gansos na chapa. Estava delicioso e eles foram se aquecer na lareira.
Principezinho disse à Filomena que a saudade que tinha de sua terra natal e de sua família não era pequena, e contou a ela como sofria. Ele tinha apenas nove anos de idade e não queria para sempre viver sozinho.
A mestra, muito compreensiva, ouviu toda a dor do príncipe e disse que no dia seguinte eles poderiam visitar sua família.
Pequeno príncipe mal dormiu tamanha sua ansiedade. Arrumou suas coisas, quis dormir de janela aberta e agradeceu às estrelas.
“Obrigado, amigas estrelas, nem acredito em minha recompensa, obrigado, Grande Mago. Sou um menino feliz e abençoado!”
A manhã do dia tão esperado estava linda, limpa e o ar estava fresco. Filomena chamou o principezinho e disse-lhe que fariam a viagem num carro mágico.
O carro, acreditem se quiser, era feito de nove gansos crescidos e saudáveis, brancos e lindos, exatamente aqueles que na noite passada haviam jantado na chapa. Mais uma mágica de uma maga.
Foram voando no céu até atingirem o ponto exato da Índia em que a família do príncipe morava. Desceram.
Filomena disse ao pequeno que ali era o lugar onde ele deveria agora morar. Disse que ela estaria disponível sempre que ele precisasse e desejou que sua vida fosse a de um mago de sorte.
O pequeno a viu voar no céu com os gansos e deixou cair uma lágrima. Esta se transformou num colar sagrado de penas.
Ele entrou em sua casa e sua família o recebeu de muito bom grado. Foi ele um príncipe-mago felizardo.