09/12/2010

a magia do natal

Como uma boa brasileira, eu nunca dei atenção ao Natal. Sempre o imaginei sendo ou uma coisa de Jerusalém (que não me pertencia, a não ser ali, desenhado, nos meus livros ilustrados de catecismo) ou algo do tipo Papai Noel (exclusivo americano).
Mas, de repente, nao sei se por ter ido a Nova York pela primeira vez (bem na época do Natal) ou por ter assistido ao Estranho Mundo de Jack, o natal começou a me surpreender. Quis árvore, enfeite e presentes. Não comprei a árvore, nem os enfeites, mas comprei os presentes, antecipadamente, me emocionei com a decoração de Natal de um shopping!!!!!, e, senti saudades dos cds da minha mãe de música de Natal...

DIONISO E ARIADNE

Ah, que bonito vê-lo!!! Dioniso e Ariadne...

04/12/2010

procurando a aventura perfeita

Eh dificil encontrar um esporte que se ama, mais dificil ainda estar apto a entrar em seus ramos, participar de seu fogo, morrer em suas entranhas...

25/11/2010

reverenciando meu coração

Eu sei que parece um pouco ridículo escrever para crianças, e ler para crianças, ou ainda mais, ler o que as crianças lêem. Mas na vida, certas coisas são completamente fora de questionamento, e quando a gente nasce para uma coisa, a gente nasceu para aquilo. E eu dou-me voltas inteiras e percebo, as vezes percebem os outros antes de mim mesma, que o meu destino são as crianças. Eu amo dar aula, não, não que eu ame, mas eu gosto, mas não é de dar aula que eu estou falando, e nem de ter filhos, apesar de que acho que gostaria de ter vários. Estou falando de escrever para eles. Escrever com profundo respeito e lealdade. Escrever para essa nova geração que chega ao mundo. Escrever para aqueles nascidos no ano 2000. Considero um privilégio. Não são crianças de um novo século, são crianças de um novo milênio!

20/11/2010

E a gente acorda e dorme com borboletas e milhares de luzes que acendem, se apagam, e se misturam no coração, pra depois doer tudo e dar vontade de voar e de entrar em céu escuro e magnânimo. Arrepio no couro cabeludo, movimento ondulante nos olhos, os cílios a piscarem,
i like thee.

16/11/2010

A vida carrega águas de maneira que muitas vezes não podemos entender. As vezes o rio na nossa frente faz curvas, para, rodeia, a água imerge por dentro da terra para longe na frente fazer-se fonte novamente, e rio. Penso que guardar mágoas é como enterrar água corrente de rio. Fica lamacenta, não pode beber. Guardar mágoa é ruim. Hoje eu desfiz mágoa e me senti como rio que corre de novo, grandioso, limpo, veloz.
E toda vez que a tristeza vier, sei que uma hora ou outra, ela vai embora. E a alegria vem. E assim corre esse rio da vida. Assim correm as águas que não compreendemos. Elas são as veias da nossa vida. Nós temos um corpo emprestado, mas somos de outro. Viemos de um mesmo corpo, todos. As vezes acontece.

11/11/2010

As águas correm mais lentas o vale por onde caminho. Ainda é breu, talvez o alvorecer, ou a aurora, não distinguo, não tenho relógio, mas olhando melhor, vejo que as estrelas caem, deve ser a aurora. Vejo a bruma cobrindo as montanhas e o frio, gélido, perspassa meu corpo. Bebo um pouco da água, fria, boa, leve. É o rio de São Miguel. Vejo adiante uma espada encostada, beirando a água e fazendo-a turva na margem. É a espada do arcanjo. É para mim. Para realizar uma tarefa. Agaixo e reverencio. Entro em outro mundo de olhos fechados, por um momento. Tudo é luz incendiante, irradia do eixo para fora, a espada tem poder. Tento devolvê-la ao rio, ela não deita ao chão, ela volta como um imã. Tento novamente, mas há um campo magnético que a empurra para minhas mãos. Eu a deixo, ela fica parada no ar. Retomo-a. Coloco-a na minha cintura, apertada por meu cinto. Caminho. O sol começou a nascer. Subo a encosta. O rio se estreita. A água escassa. Agora não guio mais meus pés. Sinto medo. A bruma me encosta, ando em nuvens.

07/11/2010

As vezes a vida se confronta com a nossa vida. Não haveriam de ser a mesma vida? A nossa e essa de fora? Mas vem de repente um nó na garganta, um nó de gravata apertado demais, e dá vontade de tossir. De ficar vermelho sufocado, porque isso exprime o que se tem. Mas e se eu me soltar? Como, como faço pra me tirar desse sentimento de asfixiação, desse peso que a vida impõe na minha vida? E se elas fossem a mesma vida, não haveria de ser mais leve a minha vida e mais pesada a outra vida? Quem me impõe o que não quero? Provavelmente um outro eu. Algum que queira um sonho divergente do meu próprio sonho. Como podem alteridades numa identidade? Quantas vozes são essas, quantos comandos são esses? Sinto um peso que me paraliza porque me acelera. É a dúvida. São de novo as escolhas. E o meu ser não aquieta.

04/10/2010

canso. quase desisto.

28/09/2010

... E às vezes, a vida lampeja. (eu adoro lampejo)
e falar parece mais saudável do que aguardar elogios.

arguto vaga-lume

Era uma vez um vaga-lume que decidiu fazer alguma coisa da vida. Se matriculou na escola e lá, o professor estava ensinando os seus pupilos a fazerem flores, com pétalas, cores e odores. Todos estavam muito apreensivos, afinal de contas, iriam fazer as flores para o mundo e para as pessoas. O vaga-lume tinha que se concentrar, visualizar a flor que queria, saber exatamente seu tamanho, quantas pétalas e qual o seu perfume. Depois, esforçar-se para que ela se materializasse e ainda ter perseverança para que ela sobrevivesse. Decidiu que faria uma flor pequenina, de quatro pétalas, amarela com o perfume do mar. E fez. Enquanto todos os alunos já estavam fazendo arbustos e árvores enormes, o vaga-lume estava ainda na sua flor amarela, fazendo-a infinitas vezes, e o professor não o permitia tentar nada de novo. Ficou emburradíssimo, fazia as flores agora por pura obediência. E não se conformava em ser o pior aluno da classe e não ter emoção alguma no seu trabaho de repetição. Ele era muito distraído, não havíamos comentado isso, mas sempre que podia, saía para tomar ar. Dada a sua lastimosa situação, resolveu então que de agora em diante, sentaria no fundo da classe (para não ser notado), e não arredaria os pés dali, faria mais mil flores amarelas, com toda satisfação, mesmo que esse trabalho durasse a eternidade, até que seu professor lhe desse uma nova tarefa. Acostumou-se a ser aquele que faz flores amarelas pequeninas, com quatro pétalas e cheiro de mar, pois fazia-as como ninguém. Foi com essa atitude que o professor o convidou a substitui-lo, pois era o aluno mais persistente que já tivera.

comicidade feminina

Às vezes, a vida se constrói em semanas de idas ao cabelereiro.

25/09/2010

O casamento de Diana

Era uma vez, num reino distante, uma princesa chamada Diana. Ela era negra, linda e o seu corpo era todo enfeitado com flores que ela própria desenhava.

Diana era a única filha de seus pais e foi prometida para o príncipe Inácio, também único filho do rei e da rainha de um principado vizinho dali.

Diana e Inácio se conheciam desde bebês e brincavam juntos, quando os seus pais se visitavam. Sempre havia festa em um ou noutro reino e eles gostavam de conversar, correr e namorar.

Quando Diana completou dezesseis anos, Inácio completou vinte e três e foi a hora deles se casarem. As duas famílias prepararam um casamento no jardim de Diana e lá eles prometeram amor eterno e cuidado um para o outro.

Uma estrela cadente caiu na hora deles se beijarem, fez barulho de foguete e todos aplaudiram, todos os convidados se comoveram.

Inácio acendeu um cachimbo de fumaça colorida e o entregou aos seus amigos, para que todos participassem do mesmo amor.

Diana estava muito bela, ela tinha uma serpente de estimação que estava enrolada no pescoço, servindo de colar para a noiva.

Inácio estava vestido com roupa de caça. Levou consigo o seu arco e suas flechas e demonstrou coragem e proteção para Diana.

Na manhã seguinte ao casamento, algo muito triste aconteceu. Inácio morreu sem motivo aparente. Diana chorou e enterrou o corpo dele na casa nova.

Inácio passou a aparecer para Diana todas as noites para conversarem e dormirem juntos. Eles passaram a vida assim, Diana-viva, Inácio-fantasma, amando-se tragicamente.


21/09/2010

namasté

agradeço tudo.

16/09/2010

águas

É difícil descrever as marés, as fontes, as águas da vida. Mesmo o sangue, o vinho, a baba, o gozo, o choro. Tudo o que é líquido toma forma sensual. E evapora com o tempo se não tiver corredeira.
As vezes me penso afogada em minha própria testa - emaranhada na minha cabeça, nos líquidos de minha alma, no fazer sem relógio, no meio - que existe sem propósito.

O único amigo

Era uma vez uma menina que tinha um amigo. Ela era tão feliz com esse amigo, que não queria mais nenhum outro amigo e também não queria que seu amigo tivesse nenhuma outra amiga.


Um dia ela foi ao parque colher flores, cantar e dançar. Ela estava com o seu único amigo, mas ele estava longe, também a colher flores, dançar e cantar.


De repente, apareceu um garoto muito bonito, alto, de olhos azuis brilhantes, cabelos loiros cacheados, que trouxe para a menina seis flores exóticas, de espécies que não havia ali no parque.


O garoto disse a ela que aquelas flores foram colhidas nas terras dele e, porque ele tinha gostado muito dela, quis presenteá-la. Ela agradeceu as flores e saiu correndo, porque pensou no seu único amigo e pensou que talvez ele não fosse ficar feliz por ela fazer um novo amigo. Ela escondeu as seis flores no bolso do seu vestido e não conseguiu mais cantar, nem dançar, nem colher novas flores, tamanha a sua preocupação.


Antes mesmo de encontrar o seu único amigo, pegou de novo as flores que tinha ganho, cheirou-as, apreciou-as e as jogou fora.


Quando o seu único amigo se aproximou, ela estava chorando e contou a história do presente para ele. Ele disse que ela não precisava ter um único amigo, e que nem ele precisava ter só ela como amiga, que eles podiam ter outros amigos, e que talvez aquele garoto de cabelos loiros pudesse ser amigo dos dois.


Já era tarde demais, porém. O garoto havia desaparecido. A menina continuava chorando, foi procurar as flores no jardim do parque, mas não as encontrou.


Algum tempo mais tarde, o seu único amigo precisou viajar com a família e nunca mais regressou.


10/09/2010

a ti

O estímulo foi imenso, nós acabamos o livro, eu agora não durmo, só me vem à cabeça Dioniso. E aquela estrela vermelha, pregada em minha testa e na dele. E o grifo, a noite escura. E ela, arrasada nos pés do labirinto, labrys. Tudo afoito, nossas vidas se confundindo. Dioniso, o verde da mata, seu cajado, o leopardo. Tudo em cima da minha cabeça, de bandeja, de uma só vez, nós terminamos todas as páginas. E a estrela ficou acesa em minha testa, então eu não durmo. Está na hora de acordar em Naxos. Está na hora de levantar do desmaio. Existe uma narrativa que não entendo, um fio invisível aos olhos: o destino. O mel daquelas abelhas misturou-se na nossa boca.

03/09/2010

E nado, e navego, e fico aqui tolhida num mundo tão meu. Tão métrico e regular. Quero dançar na roda de fogo, quero participar de um mundo coletivo. Preciso de mãos, à direita e à esquerda. Quero participar de algo maior do que eu.
E agora, de cabeça pra baixo vejo o mundo se comover. Quanta espera! Ai, quanta espera! Não consigo mais ver nada daqui, estou no alto, e cadê o temporal? Cadê as estrelas, para explodirem como bombas, e os meus olhos a vê-las... Cadê o transbordamento da minha boca, minha saliva na língua, cadê o temporal? Onde me encontro é só, é centelha. Percebo que as oportunidades voltam, minhas unhas de absinto. Abro e sinto... Quero de novo, venham a mim as oportunidades... Eu abraço agora de uma nova maneira, eu juro. Eu prometo assistir ao temporal por inteiro. Eu inteira. Adentro e agarro. Eu levo a sério. Me dê. Dê. Vem. Eu preciso entrar nesse círculo, eu quero estar no centro. Concêntrica. Eu preciso de um beijo. Mais um. Vem.

01/09/2010

O Pequeno Mago


Já perdido na terra dos orientais, o pequeno príncipe se cansou de talhar sua malha de angústia com linhas de lã.


Ele queria um prazer ainda mais intenso do que o vento que subjuga as montanhas geladas daquele pólo em que estava morando desde o ano passado.


O pequenino ansiava por passar a vista na visita do seu coração. As veias de seu peito estavam doces e sem coloração.


Na realidade ele estava triste, sozinho e uma leve inquietação abalava o seu peito na tempestade. Sua família há muito não via e a saudade aumentava conforme a neve caía.


O pequeno príncipe principiava seu estudo de mago. Ele estava sem um mestre e isso dificultava, mas havia em sua mochila uma apostila de magia branca e com esta ele estudava.


Carregava uma lanterna cor-de-rosa e na caverna em que morava, protegido do frio, estudava. Começara já a praticar alguns ensinamentos.


O primeiro havia sido a capacidade de mudar objetos de lugar. Podia trazer lenha da floresta para se esquentar, podia trazer uma flor congelada, ou puxar seu cobertor. Tudo com o pensamento.


A segunda lição havia sido a capacidade de transformar uma coisa em outra coisa. Por exemplo, sua apostila em um cãozinho, sua caneta em varinha mágica, sua roupa velha em roupa nova.


A terceira lição, estava aprendendo. Era a capacidade de voar para onde quisesse em poucos segundos.


Para realizar a quarta capacidade, o pequeno príncipe teria de encontrar um mestre. Era esse o desafio.


O pequeno passou dois meses com o treinamento do vôo. Todos os dias, às cinco horas da tarde, quando já era noite por causa do inverno, ele fechava os olhos, imaginava o lugar para onde desejava ir e se soltava.


Sentia os pés se desprenderem do chão, suas mãos formigavam, sua barriga ficava fria e ele subia. A primeira vez que tentou a tarefa, caiu do teto da caverna, era falta de fé. Precisava acreditar no resultado e não temer.


Sua primeira viagem completa foi para o Brasil. O pequenino conseguiu descer numa praia paradisíaca e meditar por ali. Conseguiu lá mesmo, até realizar as outras capacidades que já havia adquirido, como trazer objetos distantes e transformar o que quisesse.


O principezinho voltou para a caverna satisfeito e percebeu que dentro de si as coisas estavam mudando. Era um tipo de crescimento amadurecido. Sentia-se fortalecido, pleno de luz branca.


Cozinhou o seu jantar, comeu e adormeceu. Sem explicação alguma, o pequeno acordou em Bagdá. Ouviu o som de flautas e clarinetes, sanfonas e viola.


Ficou encantado, mas percebeu o seu estado de mendicância. Fechou os olhos em meditação para tentar compreender como havia chegado até ali. Sentia fome, como iria falar aquela língua?


Viu uma mocinha passar e fazendo gestos com as mãos, explicou a ela que sentia fome e queria ser seu amigo.


A menina sentou-se ao seu lado, retirou de sua bolsa algumas frutas e deu a ele de comer.


Ele percebeu que ela era muda e ficou feliz por tal amizade. Ela o levou pelas mãos até sua casa, um abrigo humilde, infinitamente belo por suas flores.


Havia flores por toda a entrada da casa e dentro do jardim havia um pavão belíssimo. O príncipe ficou lisonjeado.


Não parecia haver ninguém na casa senão essa amiga. Eles entraram.


Ao chegarem ao quarto da mocinha, para o espanto do principezinho, ela retirou seus cabelos, que eram de mentira, e se transformou numa mulher de 40 anos, careca, muito, mas muito mais bonita do que a menina que ele havia conhecido.


O príncipe fez cara de quem não entendeu a situação e ela, não parecendo nada muda, começou a falar.


Explicou-lhe que havia chegado a grande hora do principezinho, que ela era a mestra que ele procurava. Ela o elogiou, o parabenizou e ele contou-lhe a sua história.


Contou da apostila, da saudade que sentia de sua família e do que já sabia fazer em mágica.


A mestra lhe disse que se chamava princesa Filomena e se ofereceu para voarem juntos até a caverna onde o príncipe morava. Eles então foram para lá.


Enfim, a quarta capacidade estava agora realizada. O pequeno príncipe encontrara o seu mestre, ou melhor, sua mestra.


Princesa Filomena adorou a casa do pequeno príncipe e cozinhou naquela noite o jantar para os dois. Fez filhotes de gansos na chapa. Estava delicioso e eles foram se aquecer na lareira.


Principezinho disse à Filomena que a saudade que tinha de sua terra natal e de sua família não era pequena, e contou a ela como sofria. Ele tinha apenas nove anos de idade e não queria para sempre viver sozinho.


A mestra, muito compreensiva, ouviu toda a dor do príncipe e disse que no dia seguinte eles poderiam visitar sua família.


Pequeno príncipe mal dormiu tamanha sua ansiedade. Arrumou suas coisas, quis dormir de janela aberta e agradeceu às estrelas.

“Obrigado, amigas estrelas, nem acredito em minha recompensa, obrigado, Grande Mago. Sou um menino feliz e abençoado!”


A manhã do dia tão esperado estava linda, limpa e o ar estava fresco. Filomena chamou o principezinho e disse-lhe que fariam a viagem num carro mágico.


O carro, acreditem se quiser, era feito de nove gansos crescidos e saudáveis, brancos e lindos, exatamente aqueles que na noite passada haviam jantado na chapa. Mais uma mágica de uma maga.


Foram voando no céu até atingirem o ponto exato da Índia em que a família do príncipe morava. Desceram.


Filomena disse ao pequeno que ali era o lugar onde ele deveria agora morar. Disse que ela estaria disponível sempre que ele precisasse e desejou que sua vida fosse a de um mago de sorte.


O pequeno a viu voar no céu com os gansos e deixou cair uma lágrima. Esta se transformou num colar sagrado de penas.


Ele entrou em sua casa e sua família o recebeu de muito bom grado. Foi ele um príncipe-mago felizardo.


26/08/2010

A Menina que Falava Amor


Era uma vez uma menina muito bonita que vivia nos campos da aurora. Seu nome era Minhola. Era filha de um rei e de uma rainha muito queridos naquelas terras.


Minhola gostava de brincar com os bichinhos pequenos que via no chão e também de se enrolar num pano mágico que ganhara do seu cão.


Minhola não tinha irmãos, parecia sozinha, mas não era. Tinha uma infinidade de amigos do outro mundo. Era amiga das pedras, das flores, dos bichinhos do chão. Além disso, falava com elfos e fadas invisíveis.


Um dia Minhola foi brincar com seu cachorro na floresta e encontrou um velho sábio recostado numa pedra. Olhou para ele assustada, parecia que via uma aparição. Aí a confusão veio.


Ela não sabia discernir de qual mundo aquele ancião provinha. Ele não tinha as particularidades dos índios, nem dos elfos e nem dos amigos invisíveis. Ela ficou olhando e cabisbaixa prosseguiu a caminhada. Seu cão, por outro lado, abanava a cauda e sentia-se contente com a presença do velho.


Minhola pensou que aquele podia ser a morte, mas depois de verificar que em seus olhos brilhava um lindo arco-íris, desistiu dessa opinião.


Olhava para trás, mas o velho não se movimentava. Ela resolveu voltar para lhe perguntar:


- Olá, senhor. Posso saber quem é você e o que faz aqui na floresta dos campos?


- Eu sou o campineiro, ele disse. Eu vivo aqui há vinte mil anos e sei quem você é, Minhola.


O cão de Minhola agora lambia as pernas do senhor. Minhola estava deslumbrada.


- Como uma pessoa pode viver por vinte mil anos num mesmo lugar? Perguntou.


- Minhola, eu sou quase como os seus amigos invisíveis, porém tenho uma diferença. Eu sou rei e não governo, sou pai e não tenho filhos, sou marido e não tenho mulher.


- Você é minha imaginação? Minhola perguntou.


- Não, eu sou o Amor, respondeu o ancião.


Minhola se cobriu no pano mágico porque achou necessário viajar no plano astral e descobrir quem realmente era aquele santo.


No momento em que se enrolou, o cão da sorte se juntou a ela e foram os dois, túnel abaixo, peregrinar pelas ondas do céu.


Primeiro chegaram num deserto pré-histórico onde sabres, escorpiões e aves dançavam uma fervorosa música de harpa. Depois, sem fazer esforços, caíram numa pedra que falava.


Sim, lá estava o velho com olhos de arco-íris. E não havia só ele, havia milhares deles, todos com os olhos faiscando belas cores.


Era hora de Minhola descobrir o que queria. Sentou-se como se aquele lugar fosse a sua casa e começou a desenhar no chão. Seu cão foi passear.


Um dos senhores veio ao seu lado e disse:


- Percebe quem sou eu?


- Sim, Minhola respondeu. Você é o Amor.


Todos os senhores então vieram e cantaram a ela uma canção assim:


“Senhora das nuvens, ventania das montanhas, os teus sonhos te carregam e nós te presenteamos. Você é escolhida para nos nossos braços ficar. Senhora das nuvens, nós estamos prontos para embarcar. Abra o seu coração que nós vamos entrar.”


Minhola contente recebeu o que antes não sabia o nome, e com Amor viveu sem chorar as faltas da vida. Minhola percebeu que o Amor vencia e desde esse dia amou a vida com mais alegria.


20/08/2010

nuvem branca




Era uma vez uma aldeia muito antiga, toda ladeada por neve. Era uma vez uma jovem mulher e o seu amor, Nuvem Branca, um homem que levava o nome de uma raça.


A mulher era branca como noiva, Nuvem Branca era vermelho como sangue. Eles namoravam há dois anos e um dia fugiram da aldeia para casarem-se além das montanhas. Lá construíram abrigo, conseguiram fogo e alimentos.


Nuvem Branca queria ter um filho, mas percebia que sua esposa, timidamente, se escusava da proposta. Ele não compreendia o gesto, mas confiava em seu amor.


A jovem sabia que em um mês morreria e não daria tempo do filho chegar. Essa consciência se devia ao fato de ela comunicar-se diretamente com Grande Espírito, o deus do povo Nuvem Branca. Fora ele quem lhe dera esta informação: ela morreria para cobrir uma oferta de outros deuses.


Nuvem Branca se distraía trazendo animais para casa a fim de domesticá-los, pois sentia que filho não teria. Apesar das adversidades, o casal vivia feliz e apaixonado, eles eram almas irmãs e complementares.


Quando um mês se passou, a mulher estava preparada para deixar o mundo. Sentou-se no centro da tepee, que era a sua casa, e olhou fundamente para o fogo aceso.


Foi por intermédio desse fogo central que Grande Espírito desceu à Terra e pediu à jovem, que de mãos atadas, partissem para o Mundo Além.


Nuvem Branca já há algum tempo estava desconfiado da aliança de Grande Espírito com sua esposa e por isso se escondeu e assistiu àquele encontro.


Silenciosa e discretamente, colocou as mãos no fogo, no momento exato do encontro e, assim, junto com eles morreu para o Além. Lá, se tornou ajudante de Grande Espírito por seu mérito na habilidade de amar sem limitações.


16/08/2010

O Senhor do Fogo

O Senhor do Fogo abriu os olhos e se encontrou com a chama da fogueira. Ali, reclamou toda a mágoa que ainda não havia sido cumprida e em seu estranhamento se fechou em abundância e se perdeu num sonho de infância: o primeiro amor. Parecia ser o primeiro, mas não era. Era somente o único amor da vida, tão forte e tão intensamente agradável.


Com os olhos abertos procurou por sua Senhora. Ela não morava mais ali por perto, morava num outro monte de fogo. As fagulhas faziam arder o rosto do homem e, face ao mistério, ele viu em sua própria sombra, a imagem divina de sua mulher, gêmea sagrada de si.


Ao tocar a sombra, ele se apoderou da imagem dela e ela se tornou real, inimaginavelmente real. Porém o corpo do Senhor desapareceu no mesmo instante e vibrou dentro da Senhora uma voz imediata que dizia:


- O seu sumiço me criou alada. Não possuo mais um corpo para que me toques. Desejas desfazer o encanto?


O Senhor do Fogo tomou corpo novamente, sua Senhora desapareceu. Ele queria responder sim a ela, mas não pôde.


A fogueira ainda estralava a lenha quando ele a invocou novamente. Nada ocorreu, até que uma coruja pousou em seu ombro e aquela voz trêmula novamente surgiu. Sem hesitar, o homem exclamou:


- Sim! Eu quero o teu corpo, quero a presença unida de nós!


Ela ouviu as palavras, mas em seu corpo de coruja voou para longe dali. O Senhor do Fogo não conseguiu acreditar. Chorou desesperadamente frente à fogueira e adormeceu noite após noite, à espera dela que não vinha.


Após alguns meses, numa pequena vila de um país que visitava, ele a viu naquela forma linda de mulher que conhecera um dia. O tempo o havia mudado. Ele estava crescido e amadurecido.


Ansioso, foi correndo até ela para conversar. Ela não mais se recordava dele, mas como se fosse pela primeira vez, se apaixonou. Casaram-se naquela pequena vila e foram felizes, juntos, para nunca mais se separarem.


11/08/2010

Arastello


Era uma vez um menino mágico que andava sempre pelo mesmo lugar. Ele se chamava Arastello, que significava, em sua língua, homem de prata, metal e aço. Morava numa fazenda de búfalos e margaridas. Quando nasceu, circulou em mente um pedaço de território e prometeu viver dentro desse círculo por toda a vida.


Um dia, ao acordar, viu um jarro de metal em cima da lareira de sua casa e ao tocá-lo, o jarro caiu e se quebrou, como se fosse um jarro de vidro; Arastello ficou assustado. Ele morava com os avós e ninguém estava em casa naquele momento.


Arastello foi para o campo cuidar dos búfalos. Antes de chegar ao território maior, avistou um búfalo muito estranho no meio da estrada de terra. Estava sozinho, fora da manada e parecia querer dizer alguma coisa, apesar de os búfalos não falarem.


O búfalo se apresentou ao pensamento de Arastello. “Sou fêmea, sou a avó dos búfalos, ouça-me bem, você precisará quebrar a sua promessa de viver no círculo sagrado porque viajará muitas milhas, distante daqui. Atravesse a cordilheira e chegue perto da montanha de neve. Lá, procure o monge Mudradham.”


Arastello perguntou exatamente quem o estava mandando nessa missão, porque quebrar uma promessa de nascimento podia ser algo extremamente negativo e provavelmente fatal.


A búfala respondeu somente: “Ou vá e acredite no seu pensamento ou negue o que um animal xamânico lhe fala”.


Arastello era fiel ao xamanismo e sabia que os búfalos eram sagrados e a avó búfala era de fato uma divindade adorada entre a sua família.


O menino era medroso porque sempre respeitou a lei de nascimento, mas quis se enfiar na aventura e procurar por Mudradham.


Foi até a sua casa, pegou uma mochila, colocou algumas frutas, pegou uma corda, uma faca, um fósforo e água. Então, foi atravessar a cordilheira.


Dois anos se passaram, sem que nada encontrasse; nem a cordilheira, nem a montanha de neve, nenhuma cidade, nem Mudradham, nem búfalo havia na planície. Era silêncio puro e louco. Arastello ouvia lobos uivarem e sentia o frio da neve se aproximar, mas não enxergava um palmo à sua frente, por causa da neblina e não sabia nem onde estava.


Estava fraco, beirando à morte, quando um dia o sol se pôs e Arastello se viu diante da cordilheira, dentro da cidade da montanha de neve e à sua frente um monge pequenino como um anão, dizendo:


- Sou eu, Eu sou. Mudradham. Só tenho três coisas para te dar e não posso te ajudar em mais nada.


O monge entregou ao menino três flechas, sem arco, sem nada. Mas o menino viu que havia um líquido oleoso na ponta de cada flecha. Arastello pensou: uma flecha para o amor, uma flecha para o perdão e uma flecha para o futuro, seja ele qual for.


Viu um perdiz voar e deu uma flechada. O perdiz caiu e ele assou o animal. Comeu um pedaço de seu coração e ofereceu todo o resto da carne a Mudradham. Logo depois, viu uma gazela saltitar, atirou a flecha e a gazela morreu imediatamente. Arastello pegou o fígado e deu todo o resto da carne para o monge. No mesmo instante passou um búfalo e Arastello não atirou. Atirou a flecha em si mesmo, mas não morreu. Sentiu dor e sacrifício, ofereceu a si mesmo inteiro para Mudradham.


O monge arrancou-lhe a flecha do peito, curou-o com a luz de suas mãos e disse a Arastello:


- Por que fez isso? Você sabia que as flechas estavam envenenadas, você pôde comprovar com a morte dos animais. Por que tirar a própria vida, Arastello?


- Eu não quis tirar minha vida, Mudradham, quis apenas oferecer o meu ser para o renascimento, o futuro é minha única chance; eu traí a minha promessa natal, como posso continuar a vida se não renascer como homem livre e perdoado?


Mudradham colocou as mãos sobre a cabeça do menino e deu-lhe o presente da vida eterna. Arastello, desde então, ajuda a tirar as flechas dos animais que são mortos pelos caçadores e as entrega àqueles que não têm o que comer.


Arastello tornou-se um xamã-fantasma, uma alma liberta que, por livre-arbítrio, protege os caçados e os caçadores. Mudradham continua vivo, passando seus ensinamentos aos culposos de coração.


09/08/2010

Cojac


Era uma vez um gigante grotesco como ninguém. Seu nome era Cojac, ele nunca se casou. Esmurrava portas como ventania antecede temporal. Era grande e valente, comedor de crianças e lobos.

Lobos vinham de longe para visitá-lo, traziam esperança, mas Cojac sempre os comia. Quando alguma criança aparecia querendo fazer amizade, Cojac a engolia.


Era gordo porque comia crianças que comiam chocolates e, portanto digeria a gordura das vítimas. Os lobos não tinham contra-indicações.


Era sujo e raivoso também, nunca tomava um banho sequer. Nascera infeliz, gritava muitas vezes, nunca teve um animalzinho para lhe fazer companhia. Não tinha dotes, não queria aprender a fazer nada e punha-se a resmungar da sorte.


Cojac era mau, a ninguém interessava porque era rude e malvado, em nada acrescentava. Assim era, assim vivia. Acreditava na imutabilidade da vida.


Fora fraco para vencer, aceitava qualquer derrota, não experimentava nunca uma vitória. Não conhecia nada, não perguntava, não observava. Era limitado e sozinho.


Caminhava todos os dias, conhecia bem sua moradia, uma cabana em meio à floresta vazia. Alimentava-se às vezes de frutas silvestres e se irritava com o som dos pássaros que ouvia.


Sua sorte, como se previa, foi de mau agouro. Um dia estava em sua cozinha a preparar um mingau de criancinhas e ao debruçar-se no panelão, desequilibrou seu corpo, caiu dentro da comida e se espatifou. Morreu queimado. Derreteu-se na papa e acabou mole feito cinza.